Lembro-me de uma palestra do ilustrador Gémeo Luís nas conferências do Farol de Sonhos (2006), em que o ilustrador dizia que das primeira coisas que pedia aos seus alunos era que lhe contassem qual era a “tara deles”. O auditório encheu-se de gargalhadas. E o orador continuou muito sério, a explicar que tinha de perceber o que “mexia” com aquele aluno e que sem essa “tara” dificilmente se conseguia criar. Ou pelo menos é a memória que eu guardei desta conversa! (Outro óptimo tema para escrever, a memória.)
A verdade é que todos os artistas, ilustradores e designers que conheço têm esta obsessão, ou melhor, dizendo uma coleção de obsessões.
Há tempos vi uma excelente palestra do TED, “Teaching art or teaching to think like an artist?”, onde Cindy Foley fala sobre o seu marido, artista, e como ele vive assoberbado por estas fixações no desenvolvimento do seu trabalho, e a maneira como ele cria ligações entre temas. Cindy Foley explica que a obsessão do artista, é sobretudo a obsessão pela pesquisa, pela investigação. O modo artístico de pensar provoca ligações e conexões sobre diversos tipos de conhecimento, sendo esta, para mim, a sua faceta mais interessante.
Ou como uma amiga diz, "eu adoro aquele artista e vivo completamente obcecada pela sua música, ouço todos os álbuns, todas as músicas, depois começo a procurar fotografias, encontro as suas inspirações, os seus amigos e começo a ficar fascinada por estas novas pessoas, que nunca iria conhecer se não tivesse ficado obcecada por este artista, e o ciclo recomeça!". Quem nunca? E o mesmo é válido para a pintura, a literatura, assim como a investigação.
Caixas de fotografias |
Boards do Pinterest |
No meu trabalho, o meu modus operandi passa pelo registo, pela coleção, pelo arquivo; sou uma colecionadora, guardo tudo o que encontro, que vejo e que me pareça conceptualmente ou visualmente interessante. Recorro ao colecionismo de imagens e textos, assim como ao questionamento e moldar de memórias. Faço também recurso a leituras e imagens de jornais e revistas, bem como material recolhido da internet.
O arquivo é a fundação de todo o meu trabalho, está sempre a ser constantemente consultado, criado e editado. A minha coleção de obsessões vive nos meus cadernos, nos recortes, na minha caixa de fotografias e no pinterest, assim como em muitas pastas no computador.Para quem é vidrado em cadernos e nesta ideia de recolher memórias, o trabalho desenvolvido pela designer Jessica Helfand é fascinante. Deixo este video sobre o livro "Scrapbooks" da autora.
E vocês, quais são as vossas “taras”?
Também são colecionadores? Onde guardam as vossas coleções?
@Todos os direitos reservados Silvia Rodrigues
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